sábado, 19 de janeiro de 2008
Amar, Amamentar
Primeiro, é interessante que vejam essa animação, acessando o link abaixo:
http://www.laboratoriodedesenhos.com.br/corrente_page.htm
E agora, leiam algo que escrevi em 2006 (logo depois, publicamos o e-book feito pelo Baçan (Vila das Artes), com trovas e alguns poememtos sobre Amar, Amamentar.
Primeiro vínculo afetivo-sexual
*Ao pretexto de um link (veja no rodapé)) para a animação do Laboratório de Desenhos, o leite materno.../Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Amigos, quando houve, em 2006, em Porto Alegre, uma conscientização para a importância da amamentação, no Encontro conhecido como ENAM(Encontro Nacional sobre Amamentação) a trovadora Carmen Pio, que no programa "A Hora da Trova", foi solicitada a enviar trovas no tema. Atendendo a seu apelo, pedi que os trovadores me enviassem as suas, novas ou antigas- que estou postando em meu blog (Meu Diário)
( www.clevane.net.com).
Enviei algumas. Transcrevo aqui, a primeira, escrita nos anos 70, a segunda, agora- de diametral de enfoque oposto, Recebi várias, confiram no blog (*). As minhas citas:
Estranho, amargo absinto,
essa miséria num lar:
a mãe que ao filho faminto
nem seu leite tem pra dar...
>>>***<<<
Quando é mãe, toda mulher
-e não se pode negar:
soma a tudo que mais quer
o prazer de amamentar...
Quando passo nas ruas desta cidade onde moro, Belo Horizonte, e nas ruas de cidades por onde passei, o quadro da mãe que amamenta em público, é sempre gritante, terrível ou belo. Sujas umas, sentadas na calçada, párias sociais, têm coladas ao peito, boquinhas vorazes. Limpas outras, arranjando um cantinho para saciar a fome e a sede de seus rebentos.
Mas a poética social eclode e me constrange, confrange, coaduna à situação. Mulher, mãe, já senti de perto o prazer, a beleza de ver o filho se alimentar através de mamas repletas de precioso líquido. Profissional, participei de seminários, campanhas, grupos educativos, momentos lindos, ouvi depoimentos...
Quando trabalhava com o médico pediatra, boliviano naturalizado brasileiro, Waldo Vergara Rojas, no PEP (PlanoEspecial de pediatria),pintei para ele um quadro onde uma famíla retirante segue sob o sol inclemente, e a mulher tem o filho moribundo, agarrado ao peito, onde das mamas pendentes nada escorre-e há linhas, marcas das unhas pequenas em desespero pelo não haver...
Houve uma época em que na maternidade, as mães recebiam latas de leite em pó, enviadas graciosamente pelos grandes trustes americanos de firmas enfronhadas no Brasil. E já ao sair para casa, a amamentação estava relegada ao Não, as mamadeiras ensinadas a substituir vitaminas naturral antibióticos, proteção, afeto...
Apresentaram o fantasma dos "seios"(linda palavra poética mas que, em anatomia, significa depressões, ocos-como os"seios da face") caídos, o mito da perda da beleza feminina pela amamentação...
Depois, o povo acordou e o governo brasileiro, umas instituições e pessoas muito bem intencionadas, começaram a reensinar o valor do leito materno, da importãncia do colostro, que aumenta naturalmente as resistências dos pequenos seres... O colostro, líquido rico e grosso, parece a resina de certas árvores... Noções de higienização, de psicologia, foram acrescentadas... No Maranhão, eu trabalhava em S.Luiz, quando estava o representante do ministério da saúde visitando uma URE (Unidade de Referência em Adolescência,)e uma das assistentes sociais fazia práticas educativas com um jovem casal. Veio à porta receber o ilustre visitante, mas pediu licença quase imediatamente, sorriu e disparou:
"_Desculpe não poder ficar mais tempo conversando, mas estou atendendo um casalzinho com seu bebê- e para nós, família ainda é o melhor remédio."
O médico do Depto de adolescência do MS ficou impressionadíssimo com uma sala onde as mães aprendiam tudo sobre alimentação. Na parede, dezenas de fotos de bebês fortíssimos e belos. talvez nenhum com os rostinhos no padrão dos anúncios americanos, que herdamos, crianças louras de olhos claros, mas carinhas pardas, indígenas, mulatas, negras e muitos branquinhos, pois em nosso país, a miscigenação é grande. Olhos de todas as cores. E almas incolores, como todas as almas...
Também notável a sala de estimulação precoce, onde crianças com deficiências quaisquer, como os DA (deficientes auditivos), estavam com as mães, a receber cuidados das especialistas. Crianças que não conseguem sugar, quais as que nascem com lábio leporino (com fenda palatal, com fendas labiais),as que nascem prematuras, sindômicas ou não, as portadoras de Síndrome de Down e muitas outras, não precisam ficar sem leite materno: há bombinhas coletoras, o leite pode ser armazenado, para alimentar adeqüadamente as criaturinhas com "néctar" das criadoras...
Estimulou-se a criação de bancos de leite- de 80 em diante, os trabalhos comunitários, as agentes de saúde, tudo vem promovendo esse retorno ao sagrado ministério do amamentar...
A função primordial das mamas, volta á pauta. "Seios" não são apenas para estimilação erótica, para símbolo de beleza feminina. São reservatório de saúde para a geração que se inicia nesse sagrado mister...
Os resultados- além de uma espécie de vocação que muitas mulheres, sejam mães meninas ou não, têm ,quase atavicamente, de promover a vida, a qualidade de vida, amamentando, estão afinal, despontando no cenário nacional.
Dá-me uma alegria gigantesca, saber de vínculos renovados assim. Noutro dia, uma jovem mãe, a doce Chuva, me confidenciava, depois de amamentar sua Mariah, menininha corada e alegre, de um ano- que jamais ficou doente- que adora fazê-lo. Apraz-me ver essa nova geração, já consciente da significância da amamentação. Além da mortalidade na infância ser reduzida, até poder desaparecer por desnutrição, o brotar da afetividade, começa nesse vínculo materno infantil. A boca é nosso primeira zona erógena e o prazer natural começa quando mamamos. Negado esse prazer, muito mais tarde, apresentam resistência ao afeto, frieza sexual e vários outros distúrbios. Muitos marmanjos olham-me espantados, quando, ao narrar situações conjugais ou sexuais, lhes pergunto: "Você foi amamentado?" Então, lhes explico o que estou querendo dizer.
Hoje abri o jornal eletrônico "Ano Hum", de João Abreu e encontrei um link do laboratório de desenho, com uma animação muitíssimo pertinente à sociedade do brasileiro em relação à amamentação. O momento é atualíssimo.. Clique e confira.
Não vou comentar, para não estragar o impacto, mas não deixe de abrir...
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte, MG, Brasil
Direção Regional do InBrasCi em Belo Horizonte, MG
( * )Mais tarde, o sempre solidário Lourivaldo Perez Baçan ( Vila das Artes) , fez um belo e-book, com todas as trovas coletadas e textos de Carmen Pio, Terezinha de Lisieux e meu prefácio.Quando enviei a encoemenda, ele disse que não cobraria, por reconhecer a utilidade pública.
Vou solicitar ao Baçan o devido link para esse lindo e-book e enviarei para vocês.
http://www.laboratoriodedesenhos.com.br/corrente_page.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário